segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Entrevista - Parte 1

Estava eu no blog de Cathy Horyn do New York Times e vi a entrevista que ela fez com Giancarlo Giammetti, sócio de Valentino. Achei a coisa mais interessante da moda, nos últimos dias e serve para muitas coisa. Como é grande dividi em 2 posts.


CH: Qual foi a melhor decisão operacional que você já fez?

GG: Quando Valentino e Eu começamos éramos 2 jovens crianças. Não havia nenhuma organização da moda, não havia nada para imitar. Então tivemos que criar muito. Acho que Valentino e Saint Laurent foram os primeiros. Nós criamos publicidade, por exemplo, Saint Laurent criou Rive Gauche, a botique. Nós nunca seguimos realmente outras companhias. Nós estávamos em Roma. Então, a melhor decisão foi continuar com a nossa própria identidade e não seguir tendências e sugestões. Não é uma decisão operacional, as eu creio que seja a base do nosso sucesso.

CH: Para quem vocês venderam primeiro a companhia Valentino?
GG: Ele era um rapaz chamado Robert Kenmore. E foi em 1969. Nós estávamos fazendo um negócio com mais alguém. Isto levou meses e meses. E no último momento estas pessoas declararam não ter dinheiro para a compra. Então eu liguei para o Sr. Kenmore, que tinha vindo vários meses atrás com uma proposta do primeiro grupo de luxo do mundo – ele já tinha comprado Cartier e Kenneth Lane e Georg Jensen – e ele queria comprar Valentino. Eu tive de dizer, “Desculpa, nós estamos negociando com outra pessoa”. Quando o negócio não deu certo eu retornei a ligação para o Sr. Kenmore. Isto foi numa sexta e na quarta-feira seguinte nós já tínhamos fechado o negócio com ele. Foi realmente o céu. O cara era tão legal e sua mede era para frente – ele estava uns 20 anos adiante. Mas, infelizmente, os “banqueiros financistas” não tinham a mesma visão e depois de 2 anos ele não pode mais continuar. Então tivemos que comprar de volta a companhia.

CH: Quando você vendeu novamente a companhia?
GG: Em 1998, para o grupo industrial HdP – Sr. Agnelli, etc. Então eles venderam para Marzotto, e eles venderam. Noite passada, em uma festa, uma pessoa me disse: “Você é um gênio, você compra e vende e ainda está aí”. Bem, não vendemos tantas vezes. Foi mais nos últimos 6 anos.

CH: Nos anos 90, quando Tom Ford e Bernard Arnault vieram a tona, alguma dessas pessoas quis comprar Valentino?
GG: Muitas pessoas quiseram – não posso dizer agora quem foram. Mas muitas quiseram, claro. Esse foi (o começo) de um momento diferente. As pessoas “falavam moda”. Hoje em dia há outra língua, dinheiro.

CH: Quando você sentiu esta mudança?
GG: Quando moda se tornou tão importante que virou interesse de pessoas que estão nas finanças. Antes os bancos estavam atrás de grandes pessoas, como Sr. Arnault ou Sr. Pinault. Agora os bancos estão à frente. Eles querem se envolver por eles mesmos.


CH: Moda no meio dos anos 90 se tornou um negócio mundial. Vocês tiverem que mudar sua estratégia para competir com os novos players?

GG: Desdo dia 1, nunca estivemos na necessidade de dinheiro, mas eu sempre tive o complexo de que eu poderia fazer melhor com alguém ao meu lado. Eu precisava de sócios. Então quando vendi para Kenmore, pensei que isso traria Valentino para o próximo degrau. Nos anos 90, quando todo mundo começou a criar essas grandes corporações, entendi que não poderia fazer isso sozinho. Para competir com grupos como LVMH, você precisa ser grande como elas. Então quando o maior grupo industrial da Itália – que inclui todo mundo desde o jornal Corriere della Será ao Sr. Pirelli – decidiu comprar Valentino, eu pensei esses caras podem ajudar a criar um tipo de grupo. Infelizmente, a harmonia entre eles desapareceu e começou a briga. Valentino era muito pequeno, sempre era deixado para segundo, por conta da empresa estar indo muito bem e eu estar lá. Então entendi que não havia nenhum futuro na idéia de se criar um grupo de luxo. Fiquei muito feliz quando Marzotto decidiu comprar Valentino. Ali havia know-how. Fizemos um bom trabalho com Marzotto, mas muito cedo percebi que eles queriam vender Valentino. E fizeram, em um grande negócio.
Você sabe, Valentino e eu sempre fizemos coisas à nosso favor. Primeiro, sempre tivemos contratos muito seguros que nos protegeram. Quando vendemos a companhia (em 1998) creio que Valentino nem sentiu a mudança. E mesmo se a companhia não fosse mais nossa, eu era capaz de comanda-la. Mas houve momento quando havia muitas pessoas para ensinar denovo, e pensei, quando você está no topo, como Valentino esteve por 47anos, este é o momento de ir embora. Por que temos que nos explicar? Por que devemos entrar em brigas? Para que?

CH: Como você fez dinheiro neste setor?
GG: Cada década havia uma forma de fazer dinheiro. Quando Kenmore saiu, nós realmente crescemos o negócio da forma usual – vendendo roupas. Nos anos 80, licença de produtos mudou tudo. Isto durou até o início dos anos 90. Você podia fazer fortuna, só através de royalties do Japão, nós estávamos fazendo US$12 milhões por ano. Você não queria saber o que eles estavam fazendo, ta bom. (Giammetti ri) Mas se você tem de se prostituir para fazer algo melhor em outra área, então você decide um país e, no momento o Japão era o país mais aberto à licença. O dinheiro das licenças nos deu oportunidades para fazer a mais bela propaganda com o fotógrafo mais incrível, e fazer desfiles tão grande quanto de grandes casas. Nos anos 90, o dinheiro vinha de investimentos. Então cada tempo há uma forma de fazer dinheiro e temos que entender/enchergar isso.

CH: Você alguma vez teve um conselheiro?
GG: EU?

CH: Alguém, um advogado, um amigo, que você possa confiar completamente.
GG: Não. Você sabe, eu acredito que na moda cada companhia tem um perfil diferente. As pessoas me dizem, “Oh, se eu tivesse um Giancarlo Giammetti em minha vida...”. Provavelmente eu não seria tão bom quanto eu sou com Valentino. Eu sei tudo sobre como comandar esta companhia. Então quem eu pediria por conselho? Advogados são advogados. Você tem de trabalhar mais quando eles estão por perto do que quando eles não estão. Às vezes um amigo que não tem nada a ver com moda pode dizer algo que esteja no conhecimento comum das pessoas. E também, Valentino e eu temos uma grande comunicação. Ele tem a confiança em mim que me torna corajoso e algumas vezes ter sucesso.


continua...

Foto:Giancarlo Giammetti and Valentino Valentino.(HikariYokoyama/WireImage.com)

por Rutu Modan