terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Entrevista


Esta é outra entrevista de Cathy Horyn que estava em seu blog, como é sobre moda puxei e traduzi para quem interessar possa.
A entrevista é com David Downton que está com uma revista interessantíssima sobre moda, a Pourquoi Pas, você pode comprá-la aqui, e custa US$40,00.
Já aviso que a tradução está rudimentar, mesmo.


CH: Como surgiu a Pourquoi Pas?

DD: Eu pensei em Vanity, obvio, e Gazette du Bom Ton. Eu realmente comecei a pensar “Não seria ótimo?”. Fotografia está em todos os cantos. Ela dominou, ela quase estrangulou, retirou praticamente os desenhos das revistas mais em evidência. Você ainda pode ver ilustrações de moda, em filipetas (flyers) de boites, em galerias, em mala direta, ocasionalmente em publicidade. Mas o que você realmente não vê é o clássico desenho usado em conjunto com a fotografia nestas revistas famosas de moda. Eu me senti carregando esta bandeira.

CH: Você pensou em dar uma chance?
DD: Meu pensamento inicial foi fazer dois exemplares por ano por três anos, para que eu possa fazer a revista crescer. Eu queria uma revista e não um livro de desenhos ou um diretório de ilustração. Eu queria que lá tivesse design. E eu não queria publicidade, o que provavelmente é a coisa mais estúpida. Mas sabia que quem fosse fazer propaganda na revista transformaria o foco dela por completo. Pensei, “pelo menos isso é coisa minha”. Eu geralmente reajo ao que as pessoas acham que devo fazer. Você abanaria o rabo quando ouvisse o telefone tocar. Mas este tipo de coisa é como se você fosse um diretor de arte. Era muito excitante estar à frente deste projeto. Naturalmente (risos), eu não pensei direito sobre ele.

CH: Então como você financiou a revista?
DD: Totalmente do meu bolso. Por sorte sou rico, digo, eu tive meu melhor ano de todos os tempos, fazendo a revista. Mas não arcaria com as despesas de novo.

CH: Quantas cópias tem a revista?
DD: Nós fizemos 1500. Vendemos 1000 nas primeiras três semanas e meia. A V&A vendeu tudo e reordenou mais 200 cópias.


CH: Você sabe, eu estava pensando como Eula costumava acompanhas Eugenia Sheppard aos desfiles de Paris e fazia sketchs – o imediatismo e intimidade de seu papel e lápis. E, é claro, agora temos sites como o Sartorialist, o qual faz um ótimo trabalho documentando a cena fashion e o que as pessoas usam. Mas como seria fantástico ter um blog inteiramente ilustrado – usando realmente o ponto de vista do ilustrador e obviamente o inverso de tudo que está sendo feito digitalmente.

DD: Nunca houve um bom momento para ser ilustrador de moda. Porque, na verdade, não existe um estilo universal, não há nenhuma fórmula de trabalho hoje. Teve um tempo que havia um tipo de estilo do arco. Quando Gruau estava desenhando, todo mundo desenhava como ele. Ele deixou marca em uma era, e agora não há marcas nenhuma. Eu creio que a melhor de todos os tempos do que você chama reportagem – ir atrás das linhas inimigas, uma forma de falar – é Kenneth Paul Block de Women’s Wear. Ele usou o espaço bem e os desenhos estão todos corretos. Eles são anatomicamente corretos, o que é o ponto de partida. Mas ele exagerou-os, puxou-os para fora, tornou-os dinâmicos. Ele também deixou marca em uma era, pois todos desenhavam como ele, incluindo Steven Meisel.

CH: Creio que eu gosto da idéia de um ponto de vista, um tipo de narrativa em desenhos. E se você tiver acesso à estúdios e o backstage...
DD: Eu concordo. Pois, mesmos os melhores fotógrafos dos desfiles estão na espera. Todos estão tirando as mesmas fotos. O backstage mudou muito nos últimos 10 anos. O backstage, agora, é apenas o prelúdio da apresentação. Sempre pensei que isso fosse horrível para os estilistas. Eles tem câmeras e as pessoas da TV apontadas para eles, e isso vai aumentando. Veja o backstage da Dior. Não há um cigarrinho que você possa pegar entre as trupes de TV.

CH: Quando, em sua opinião, houve a última grande revista de ilustrações?
DD: Nos anos 80, Anna Piaggi fez Vanity. Antonio fez a maioria das capas. Seus desenhos são incríveis.

CH: Isso é estranho, aparentemente, a qualidade da direção de arte diminuiu vertiginosamente nos anos 80.
DD: Eu acredito que este seja um dos grandes progressos que fizemos recentemente. Se você olhar para Brodovitch – o que todo mundo faz – você sente, “Nós não aprendemos nada”. Mas eu acredito que Fabien Baron, que veio junto com Brodovitch, é do mesmo. Provavelmente há um espaço de 40 anos entre o tempo em que falamos sobre direção de arte. Tenho certeza que haverá pessoas que irão descordar.

CH: As revistas tinham uma atitude diferente em relação ao trabalho de um ilustrador e de um fotógrafo. Muitas fotos foram perdidas e dadas. O que você me diz de René Gruau? Ele foi mais cuidadoso em preservar seu trabalho?
DD: Creio que ele foi bem mais cuidadoso, mas também ele foi celebrado desde o início da Dior. Ele foi amigo de Christian Dior, ele foi o ilustrador da primeira coleção depois da guerra. Naquele tempo ele já tinha seus 30 anos e já havia estado em vários lugares para saber se prevenir. E isto foi uma coisa pó-guerra – com aquele grande otimismo do New Look e as coisas mitológicas daquele tempo. È Gruau quem foi o poeta do New Look, muito mais para mim do que qualquer fotógrafo.
Mas me deixava confuso que todos na França que conhecem Gruau não conhecem também Bouche ou Eric. E cheguei à conclusão que isto acontece pois o trabalho de Gruau foi além da ilustração de moda. Ele saiu da caixa, e a caixa era aquelas incríveis revistas. Se você visse a Vogue, veria 10 páginas de Eric, que trabalhou por 30 anos, e gradualmente ele era um trabalho inteiramente Vogue. Mas Gruau era um artista de posters, ele era um artista de classe. Ele fez desenhos para o Lido. Ele entrou na psique nacional. Por mais incríveis que fossem os outros ilustradores, eles não foram além das pessoas que liam revistas de moda. Gruau viu além. Muitas vezes ele era maior que os estilistas.

CH: Qual seu histórico? Como você começou?
DD: Eu fiz Canterbury. Eu era um péssimo aluno pois era um bom artista – ou pelo menos eu achava isso. Fui encorajado desda infância a pensar que eu era maravilhoso, e eu realmente achava isso, até entrar na faculdade e perceber que todo mundo podia fazer o que eu fazia. Foi um momento horrível! (risadas) Isso me levou a um leve declínio. Me tornei petulante, como se diz aqui (ele é inglês), eu joguei meus brinquedos para fora do berço! No final isto me foi útil. Eu fui durante 10 anos um ilustrador, eu simplesmente fazia tudo que as pessoas me mandavam. Eu não tinha foco – concerteza nada tinha à ver com moda. Eu fiz livros infantis, fiz um manual do sexo, fiz romance, cardápios, folhas de álbuns. Meu ponto mais baixo foi fazer ilustrações para um livro de matemática.


CH: E quando você começou a desenhar moda?

DD: Em 1996, eu fiz um trabalho para o Financial Times. E na semana seguinte eles disseram: “Oh, você quer ir a Paris fazer desfiles de moda?” eu nunca havia visto um desfile antes, mas eu entendi nas entrelhinhas “passagem paga para Paris”. Então simplesmente eu fui, a primeira coisa que vi foi um desfile do Versace no Ritz. Era o momento Kate-Linda-Naomi. Não consegui acreditar em nada daquilo, eu tive de desenhar Valentino no Ritz. Eu apenas via isso como hilário e fantástico. Não entendia os códigos, mas, agora vejo isto como alguns dias no reino das indulgências com um passe que eles te tomam assim que você vai embora.

por Rutu Modan